RAINHA DA FESTA DO ROSÁRIO

Em 1955, ela foi sorteada para ser a Rainha da Festa de Nossa Senhora do Rosário, com o Rei José da Fortuna. Ela recusou fazer a celebração noutra igreja que não fosse a do Rosário, mas a igreja se encontrava em completo estado de abandono e quase em ruínas.

Geralda trabalhou incessantemente para a reforma e reabertura da igreja. Fez teatros, reativou, reescreveu, conduziu e expandiu as visitas das pastorinhas. Pediu ajuda à comunidade, aos fazendeiros, aos Itapanhoacanguenses ausentes, tendo recebido um apoio colossal vindo do Senhor José Horta, experiente carpinteiro que foi de Belo Horizonte exclusivamente para trabalhar de graça na igreja.

Para a festa, consertar o assoalho e o altar era a prioridade, mas Joaquim Ribeiro se preocupava principalmente com a segurança porque, Geralda subia até o trono de tábuas podre, para limpar os excrementos dos morcegos, pois ela não admitia que Nossa Senhora vivesse no sujo. Zé Horta (assim chamado), prometeu então trabalhar durante o dia no assoalho e à noite no trono.

Hospedado na casa de Joaquim e Geralda, antes de deitar ele lhes garantia que a reforma terminaria em tempo para as festividades, dizendo: Didia estou no assoalho, à noite estou no trondo.” (Ele usava trondo por trono). Assim se fez e ele trabalhava até altas horas da noite à luz de um lampião de carbureto. Ajuda não faltou para pintar as paredes, capinar o adro, recolher material de construção, lavar o assoalho e decorar a igreja. Era o dia do mastro!

Celebrou-se a festa na igreja que muito ainda havia para restaurar, mas foi quebrado o ciclo do abandono e a ameaça da destruição total. Geralda zelou por essa igreja por toda a sua vida, a decorou com flores naturais e nas festas ela esmerava na decoração e não só da igreja.

Bambu, que vive mais de duzentos anos e está presente na vida do ser humano desde os tempos mais remotos, vem sendo utilizado, devido à sua resistência e beleza ímpar, como abrigo, fonte de iluminação, ferramenta, alimento, decoração, fortaleza, mas seria em Itapanhoacanga que ele receberia um título, e nobre.

Na rua onde Geralda morava, na época sem nome, hoje Rua do Rosário, era erigido em frente à sua casa, um arco de bambu com todas as folhas, (detalhe elogiado e identificado por Frei Dimas como o Arco do Triunfo),* para a Santa por ele passar triunfante.

Tota Pulchra es Maria era comum se ler nas faixas que ela fazia com letras de papel celofane azul; bandeirolas de várias cores; lanternas nas janelas e cal artísticamente jogado na rua imitando tapete, complementavam a decoração.

Um derrame cerebral sofrido em 1986 não impediu Geralda de fazer, até os seus últimos dias, as bandeirolas e outros enfeites para a igreja e o andor.

Por inciativa da sua familia, em 1983, quase trinta anos depois, o Patrimônio Histórico de Minas Gerais restaurou o teto e o que era mais urgente, usando pequena verba conseguida em resposta ao apelo para ajudar salvar a igreja, feito em carta enviada por sua filha Ana Salvelina ao então Governador Francelino Pereira.

Atualmente, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário é a única que pode ser usada em Itapanhoacanga. A Igreja Matriz de São José, outra relíquia do barroco mineiro, estava quase em ruínas e oficialmente fechada há mais de vinte anos. (Reforma em andamento).

* Arco do Triunfo – remonta a um costume romano de construir esses monumentos à passagem dos vitoriosos.